Em conversa com o Sr do Adeus, a primeira e mais básica questão surge: porquê adeus, porque não olá?
‘Pois, ao dizer adeus pressupõe-se que as pessoas se afastam e não é esse o meu intuito mas já estou a tentar mudar’.
O Sr João Serras cumprimenta quem passa. Tornou-se numa figura presente e popular na memória dos lisboetas. Quaisquer razões ou especulações à volta do porquê desta sua actividade tornam-se secundárias ao falar com ele. Ao percepcionar o seu humanismo e maneira de ser cordial, disponível e sempre com um sorriso meigo. O Sr do Adeus passou a fazer parte da nossa cidade. Da nossa cultura.
- Ao ficar como o Sr do Adeus tornou-se numa imagem de marca.
- ‘Em absoluto’, afirma João Serras.
A criação de uma marca pressupõe uma imagem - que a tem - não só pela linguagem corporal mas pela maneira como se veste – ‘fora do vulgar, reconheço’.
Ao perguntar-lhe quem é que o aconselha, ou faz o seu styling, o Sr do Adeus diz, com toda a tranquilidade, ‘sou eu próprio, sozinho, e tenho bastante preocupação com a minha imagem’. Uma preocupação que não é recente, sempre andou de fato e gravata, ‘eram outros tempos… as pessoas de um certo nível social não andavam tão à vontade’. Aos quase 79 anos de idade, este é um testemunho real de quem evoluiu com a sociedade, adaptando-se às próprias tendências da moda, mantendo-se fiel ao seu próprio estilo.
Ao trocar ideias sobre beleza física e interior, João Serras tem ideias muito claras e assertivas sobre a sua pessoa.
‘Eu nunca fui bonito.’ Mas a questão de se ser ou não belo é um assunto bem mais lato, ‘às vezes há pessoas que não são bonitas e são sexy, mais sexy do que outras que são muito bonitas e deslavadas’. Pelo menos esta é a sua opinião. Noutros tempos, a par e passo com glamour, as pessoas sentiam-se por ele atraídas. Se actualmente essa atracção existe do ponto de vista da comunicação, antigamente era ‘do ponto de vista sexual também’. Como ele diz, ‘sempre fui sortudo nesse campo’.
Quantidade versus qualidade.
- João, em hora de ponta, acaba por dizer mais vezes adeus. Acha que quantas mais vezes diz adeus, fá-lo mais rápido e por isso pior?
João Serras, concentrado nesta pergunta, com uma expressão nitidamente profissional, responde:
- Nem pensar, independentemente do trânsito, eu mantenho sempre a qualidade, nunca digo um mau adeus.
Sendo um homem ‘o mais avesso a máquinas possível’, João Serras não tem interesse na Internet, computadores, nem tão pouco em telemóveis, não por uma questão de idade mas por uma questão de perfil.
Ao questioná-lo sobre realidade aumentada, sem lhe dar pistas sobre o que seria, João Serras, com a igual espontaneidade com que diz adeus, tem uma leitura muito própria e natural sobre o que seria este meio: ‘É ir até ao âmago da pessoa, do seu íntimo, é isso?’. Que interpretação mais literal e humana se poderia esperar?
O seu habitat é a berma da estrada, local de performance. Mantém-se fiel a si próprio e desde sempre se recusou a ir a estúdio e descontextualizar-se. Em nenhuma das inúmeras ocasiões em que tem tido essa oportunidade, mesmo que a convite de figuras públicas. Quem quiser vê-lo em directo, basta passar pelo Restelo, das 18:30 às 20:00. Todos os dias úteis, pontualmente, acenando a quem passa como que a dizer ‘olá’…
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